Clubes argentinos deixam rivalidade à parte e lideram movimento contra a privatização

Autoria por: Pedro Solon Assis Ramelli, ex-analista de redação da ANAPRI

Revisado por: Elaine Silva da Luz, coordenadora de redação e comunicação da ANAPRI

 

No sábado (11/11/2023), os clubes de futebol argentinos se manifestaram em uma posição firme contra a probabilidade de transformação das entidades como associações sem fins lucrativos para a conversão serem geridas pela Sociedade Anônima de Futebol (SAF), ou seja, privatizar as equipes de futebol. Dos 28 times da primeira divisão do país, 25 manifestaram publicamente sua oposição à proposta por meio das mídias sociais, reforçando o posicionamento da Associação de Futebol da Argentina (AFA) no início deste ano. O movimento ganhou ímpeto após uma entrevista do então candidato à presidência da extrema-direita e, agora eleito presidente, Javier Mile, concedida em 2022, afirmando que a Argentina deveria adotar o “modelo inglês”, em que o sucesso da liga seria motivado pela estrutura do clube e um dono. Essa declaração retornou às mídias sociais nesta reta final de eleição e desagradou os torcedores e dirigentes, os quais se uniram e repudiaram a ideia.

Vale ressaltar que algumas SAFs já foram efetivadas no Brasil, totalizando oito até o momento, sendo os clubes: América Mineiro, Bahia, Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Cuiabá, Red Bull Bragantino e Vasco. Para atrair o investidor, o clube deve possuir um número não muito grande de sócios que tenham grande influência e o surgimento da idéia, geralmente, se dá em momentos de crise interna no clube, em que os torcedores prezam por uma administração mais rigorosa e transparente, ou quando o clube não tem muita tradição e quer abrir investimentos para competir em alto nível. Entretanto, muitas vezes essa visão é distorcida na prática, uma vez que o número de sócios podem reduzir pela elitização da entidade, seja pelos ingressos caros ou alto no preço das camisas, fazendo o clube se distanciar da sua essência.

Um fator que diverge o posicionamento argentino com o brasileiro é a cultura clubística, a qual este sentimento está enraizado no território azul-celeste, em que além dos sócios-torcedores que pagam mensalmente para auxiliar financeiramente o clube em troca de benefícios – desconto nos ingressos, por exemplo – como no Brasil, a média dos sócios efetivos que pagam cotas para usufruir de instalações e participar de momentos políticos no clube é muito superior, tendo clubes modestos como o Vélez que, somente na década de 80, já possuía mais de 60 mil sócios. Para acessar os recursos do clube, os brasileiros precisam passar por uma burocracia e uma triagem seletiva, que muitas vezes afastam o torcedor da influência e o rumo do clube fica nas mãos de poucos sócios. Os argentinos movem sua paixão pelo clube e demonstram estar sempre presente em todas as ocasiões que possam definir um rumo de uma demanda, além de conciliar a balança esportiva com a de socialização. Embora contraditório pelo Brasil ser considerado o “país do futebol”, os clubes argentinos conseguem conectar um sentimento de pertencimento no cotidiano, o sócio consegue construir uma comunidade e convive cotidianamente com as pessoas mais apaixonadas pelo clube, os quais constroem uma relação harmônica.

 

*Texto em caráter de opinião do autor.

 

Sobre o autor: O autor fez parte do corpo de voluntários, e está tendo relançamentos dos textos produzidos durante sua estadia no corpo de voluntários.