Autoria por Jessica Hubner, presidente da ANAPRI.
Revisado por Elaine S. da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI.
A participação feminina na política brasileira tem avançado, mas ainda enfrenta desafios significativos em alcançar a paridade. Nas eleições municipais de 2024, houve um aumento importante no número de mulheres eleitas, com 15% dos prefeitos sendo mulheres, o maior percentual já registrado. No entanto, essa participação ainda é limitada se comparada ao número total de candidaturas, que viu 34% de mulheres concorrendo como prefeitas, vice-prefeitas ou vereadoras. Isso reflete um leve crescimento em relação a 2020, quando o número de mulheres candidatas foi de 33,5%. Em termos absolutos, estados como São Paulo e Minas Gerais lideram com 67 prefeitas eleitas cada. Já em termos percentuais, Roraima
teve a maior proporção de prefeitas eleitas, com 26,7%. Apesar desse avanço, o Brasil ainda está longe de atingir uma representatividade equilibrada, e nenhuma das capitais será governada por uma mulher.
Entre os principais obstáculos à participação feminina na política, o preconceito é um dos mais persistentes. Muitas mulheres se deparam com a ideia de que a política é um espaço predominantemente masculino, o que desencoraja a participação e contribui para a perpetuação de estereótipos. Esse preconceito se manifesta em várias formas, desde comentários desdenhosos sobre a capacidade das mulheres de ocupar cargos de liderança até a desvalorização de suas contribuições nas discussões políticas. Um exemplo marcante ocorreu durante as eleições de 2024 para a Prefeitura de São Paulo, quando a candidata Tábata Amaral do Partido Socialista Brasileiro (PSB), foi alvo de ataques do candidato Pablo Marçal do Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Em debates e redes sociais, Marçal fez comentários que desmereciam sua atuação política e até a atacou pessoalmente, sugerindo que ela “não tinha lugar” na política por ser mulher. Esse tipo de agressão não apenas reflete o machismo estrutural, mas também cria um ambiente hostil para a participação feminina. Outros exemplos incluem ataques à aparência, capacidade intelectual e à vida pessoal das mulheres candidatas, práticas comuns que visam descredibilizar suas campanhas. A mudança dessa mentalidade é fundamental para que mais mulheres se sintam encorajadas a entrar na política e, consequentemente, contribuam para um desenvolvimento sustentável.
Além do preconceito, a violência política é um desafio alarmante que afeta diretamente a participação feminina. Mulheres políticas, especialmente aquelas em cargos de liderança, frequentemente enfrentam ameaças, assédio e até violência física e psicológica. Segundo um relatório da ONU Mulheres e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 17,8% das candidatas nas eleições municipais de 2020 relataram ter sofrido algum tipo de violência política de gênero durante suas campanhas. Um estudo do Instituto Alziras, que analisa a participação de mulheres na política, apontou que 44% das prefeitas eleitas em 2020 relataram sofrer ataques e ameaças constantes enquanto ocupavam seus cargos. Essa realidade não apenas
desestimula a participação feminina, mas também cria um ambiente hostil que compromete a integridade da democracia, minando os esforços para garantir uma representação mais equitativa e inclusiva. A inclusão de mulheres na política é crucial para o desenvolvimento sustentável, pois a diversidade de gênero enriquece a elaboração de políticas públicas,
promovendo decisões mais inclusivas e eficazes. No contexto das eleições municipais de 2024, houve avanços importantes, com 15% das prefeituras sendo ocupadas por mulheres, e 34% do total de candidaturas femininas. Contudo, apesar desse progresso, nenhuma capital será governada por uma mulher, destacando o quão distante ainda estamos da paridade nas esferas de poder mais altas. Estudos demonstram que a liderança feminina está frequentemente associada a uma maior preocupação com questões sociais e ambientais. Mulheres em cargos de decisão tendem a focar em políticas públicas que abordam desigualdades e promovem a sustentabilidade, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A representação equitativa é essencial não apenas pela justiça social, mas também pela efetividade na construção de um futuro mais inclusivo e sustentável. Assim, iniciativas como cotas de gênero e o combate à violência política são essenciais para garantir que mais mulheres possam ocupar espaços de poder e
contribuir ativamente para o desenvolvimento de políticas transformadoras.
Em suma, a participação feminina na política é essencial para a construção de sociedades mais justas e sustentáveis. Embora os dados das eleições municipais de 2024 mostrem um aumento na representação feminina, com 15% das prefeituras ocupadas por mulheres e 34% das candidaturas sendo femininas, os desafios do preconceito e da violência política ainda precisam ser enfrentados de maneira mais efetiva. A ausência de mulheres em cargos de liderança nas capitais, onde nenhuma será governada por uma mulher, destaca a urgência de medidas que garantam um ambiente seguro e inclusivo.
Criar espaços de decisão que acolham e promovam a liderança feminina é fundamental para que essas mulheres possam se tornar defensoras de suas comunidades, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para a construção de um futuro mais equitativo. A implementação de políticas que combatam a violência política e promovam a equidade de gênero não é apenas uma questão de justiça, mas também uma estratégia eficaz para a melhoria das condições sociais e ambientais, alinhando-se diretamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Portanto, é imprescindível que a sociedade e os
governos se mobilizem para garantir que mais mulheres ocupem espaços de poder
e influência, fazendo valer suas vozes e perspectivas únicas na política.
Referências
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições Municipais de 2024: Resultados e
Análise. Disponível em: www.tse.jus.br. Acesso em: 10 out. 2024.
CONFERÊNCIA NACIONAL DE LÍDERES MUNICIPAIS. Análise da participação
feminina nas eleições de 2024. Disponível
em:https://cnm.org.br/storage/biblioteca/2024/Estudos_tecnicos/202408_ET_Perfil_d
as_candidatas_a_prefeita_nas_Eleicoes_.pdf . Acesso em:10 out. 2024.
ONU. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: www.un.org.
Acesso em: 10 out. 2024.
VIOLÊNCIA POLÍTICA. Estudo sobre a violência política contra mulheres. Disponível
em:
https://transparenciaeleitoral.com.br/observatorio-de-violencia-politica-contra-a-mulh
er/ . Acesso em:10 out. 2024.
SOUZA, A. M. A. O impacto da inclusão feminina na política e no desenvolvimento
sustentável. Revista Brasileira de Política e Sociedade, v. 12, n. 3, p. 45-60, 2023.
Sobre a autora: Formanda em Relações Internacionais pela UNINTER, foi bolsista PIBIC no projeto “Direitos Humanos na era digital”, Presidente da ANAPRI, pesquisadora sobre gênero e direitos humanos, membro do grupo de pesquisa Mulheres acadêmicas de Relações Internacionais e Ativismo Social da Universidade de Brasília (MARIAS-UnB) e atuante, também, como membro do corpo institucional, atuante na área de Relações Governamentais e Gestão de Projetos Internacionais.