A Era do Capital Improdutivo: um mundo desigual

Autor: Pedro Solon Assis Ramelli

Revisado por: Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI

Há de se questionar como um país feito o Brasil – abençoado por Deus e bonito por natureza como retratado na música “País Tropical”, de Jorge Ben Jor – possui uma economia recente tão estagnada e preocupante. Essa indignação estimula o economista Ladislau Dowbor a dissertar sobre uma fase do capitalismo com elevado crescimento da desigualdade e como o capital está acoplado em pequenos grupos de indivíduos e como isso afeta todo sistema global. 

O autor organiza as problemáticas em três aspectos: econômico-financeiro (os recursos são absorvidos para o sistema financeiro exercer uma força sobre a produção), meio ambiente (segundo a World Wild Fund for Life, entre 1970 e 2010 foram destruída 52% da fauna mundial) e social (de acordo com a Oxfam, oito indivíduos possuem uma riqueza maior que a metade da população mundial, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome). Essas temáticas foram intensificadas por conta do planeta está sendo acabado em prol de uma minoria rica, baseado nos dados da Equitable Growth que utilizou os Estados Unidos como espaço amostral de seus estudos, havendo uma inversão em 1980 do gráfico da concentração de renda com o 1% mais rico ultrapassando os 50% mais pobres, evidenciando uma desigualdade jamais vista e em uma crescente até os dias atuais. 

Outrossim, Dowbor enfatiza nas redes de corporações que se tornam oligarquias na qual menos de 1% das empresas controlam – diretamente ou indiretamente – 40% de toda a rede, além de 737 grupos controlam 80% do sistema corporativo mundial. Entretanto nem sempre foi assim, havia departamento das Nações Unidas chamado United Nations Center for Transnational Corporations (UNSTC), na qual publicava um relatório anual sobre as corporações transnacionais, porém a Organização Mundial do Comércio decidiu encerrar as atividades do departamento, em 1995. Essa tomada de decisão obviamente facilitou a vida dos grandes corporativistas que apenas sofrem com barreiras nacionais dos países, mas no conjunto internacional são livres pela ausência de um órgão regulador tão poderoso quanto o sistema corporativo. 

Além disso, há o famoso “paraíso fiscal” que é uma teia sistemática que inibe a apuração jurídica nacional e permite fluxos financeiros sem obrigações fiscais (como a sonegação de impostos) e omite as origens do determinado financiamento, sendo os lucros denominados de “offshore” e os custos (pagamentos de juros) são os “onshore”. Segundo a The Economist, há aproximadamente 20 trilhões de dólares localizados dentro dessa rede – o Brasil detém quase 520 bilhões de dólares nos paraísos fiscais – equivalente a cerca de um quarto do PIB mundial. Essa preferência dos investidores gera um capital improdutivo e fomenta uma grave consequência aos Estados, pois há a perda do poder governamental de promover políticas públicas e serviços básicos imprescindíveis para toda população por intermédio da renda de impostos, multas, processos e entre outras fontes.

Destarte, a conclusão é o pessimismo em relação ao futuro com o andamento do mesmo sistema com um capital improdutivo exuberante e a destruição do planeta acelerada, trazendo novas medidas preventivas somente quando ouvir um crise econômica como foi a crise de 1929 e a 2008, surgindo novas leis reguladoras do mercado que mitigam novos desastres e, ao amenizar a situação, os governos novamente abrem o comércio para as grandes corporações e torna-se, infelizmente, algo cíclico.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Dowbor, L. (2018). A Era do Capital Improdutivo. A nova arquitetura do poder, sob dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta. São Paulo: Autonomia Literária.