Autoria por Angelo Lopes, analista de redação pela ANAPRI.
Revisado por Elaine S. da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI.
Estado detentor da segunda maior economia da América Latina, junto de uma população de aproximadamente 127,5 milhões de habitantes, além de configurar-se como um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos (Banco Mundial, 2022), o México estabeleceu, no dia 2 de junho de 2024, o processo eleitoral para sua próxima gestão governamental, a qual irá perdurar pelos próximos seis anos e foi responsável por levar uma gigantesca massa de mais de 100 milhões de mexicanos à votação.
Antes mesmo da finalização do pleito, o Estado mexicano já havia alcançado um feito histórico: a eleição de uma mulher à frente da presidência do país. Segundo as pesquisas mexicanas, a eleição encontrava-se na disputa entre Xóchitl Gálvez – aliada à coalizão ‘Fuerza y corazón por México’, e Claudia Sheinbaum – aliada à coalizão ‘Sigamos Haciendo Historia’, ao passo que, quaisquer fosse o resultado, os cidadãos mexicanos teriam pela primeira vez em sua história uma liderança feminina no cargo de mais alta importância do país. Em consonância a este cenário, às eleições de 2024 estabeleceram também o início da “Lei da Paridade” – reforma constitucional aprovada em 2019 que garante: “[…] metade dos cargos de decisão são para mulheres nos três poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), nas organizações autônomas, nas candidaturas dos partidos políticos a cargos eleitos populares, bem como na eleição de representantes perante as câmaras municipais nos municípios com população indígena […]”. Dado este cenário, a conjunção de vitórias para a inclusão das mulheres na política mexicana fixa grandes expectativas, mas também temores, uma vez que o âmbito político firma-se historicamente – nos mais variados parlamentos do mundo – enquanto um espaço repressivo às lideranças femininas.
Uma vez eleita, estabelece-se sobre a futura presidente Claudia Sheinbaum dois problemas históricos na política mexicana: a segurança pública e a gestão migratória.
No que tange a segurança pública, o desafio demonstra-se escancarado por meio da própria eleição presidencial, configurada como “a mais sangrenta da história do México”. Superando a surpreendente marca do pleito de 2018, onde houveram 24 candidatos assassinados, a presente eleição alcança a sangrenta marca de cerca de 30 candidatos assassinados durante o processo eleitoral, número nunca antes alcançado e que inibe a contagem dos inúmeros candidatos que desistiram ou mesmo hesitaram de concorrer perante às frequentes ameaças e intimidações das facções criminosas que desafiam o Estado. Em relação à imigração, o desafio a ser enfrentado por Sheinbaum se demonstra igualmente brutal, uma vez que esta deverá lidar com a questão latente da imigração ilegal junto a fronteira com os Estados Unidos, especialmente no que tange à recente promulgação em dezembro de 2023 de uma lei estadual pelo estado do texas, que dá respaldo às autoridades estaduais estadunidenses para deportar imigrantes ilegais sem passar pelos usuais processos legislativos que versam sobre a imigração e concessão de asilos. Tal feito, poderia levar a uma deportação em massa de imigrantes detidos ao México, de maneira que a postura do então governo mexicano destaca que o mesmo apenas versará sobre a questão com o governo federal dos Estados Unidos – responsável constitucionalmente pela questão – e não junto a estados isolados como o texas. Até então, junho de 2024, após uma série de idas e vindas nas cortes jurídicas do país norte-americano, a lei encontra-se suspensa até que ocorra a análise de sua legitimidade perante às instâncias jurídicas competentes.
Por fim, no que diz respeito às relações Brasil-México e possíveis influências ou aproximações entre os dois Estados, destaca-se a confluência política da presidenta eleita com a gestão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reforça-se, contudo, que esta aproximação deve expressar-se com maior ênfase nos fóruns de negociação multilaterais, dada a convergência de linhas ideológicas entre os países, de maneira que não deverá haver necessariamente uma expansão significativa da balança comercial entre os dois países, uma vez que estes detém índices baixos de trocas comerciais, expressos por aproximadamente 0,78% de participação do Brasil nas exportações do México e 1,82% de participação do Brasil nas importações do México.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA O GLOBO. Justiça dos EUA volta a suspender aplicação de lei do Texas que permite prender imigrantes. EXAME, 20 mar. 2024. Disponível em: Justiça dos EUA volta a suspender aplicação de lei do Texas que permite prender imigrantes | Exame. Acesso em: 8 jun. 2024.
BANCO MUNDIAL. Data Bank, 2022. Disponível em: Mexico | Data (worldbank.org). Acessado em: 8 jun. 2024.
CNN. Análise: por que as eleições do México de 2024 são tão importantes. CNN, 20 mai. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-por-que-as-eleicoes-do-mexico-de-2024-sao-tao-importantes/. Acesso em: 8 jun. 2024.
INSTITUTO MILLENIUM. Segurança pública será o principal desafio de nova presidente do México. EXAME, 7 jun. 2024. Disponível em: Segurança pública será o principal desafio de nova presidente do México | Exame. Acesso em: 8 jun. 2024.
APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Graduando do oitavo semestre de relações internacionais pela UFPEL, em vias de desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso, sendo este voltado à área do meio ambiente com ênfase na transição energética brasileira enquanto motor de promoção do Brasil na arena internacional do meio ambiente.