Autoria por: Jessica Freitas, analista de redação da ANAPRI
Revisado por: Elaine Silva da Luz, coordenadora comunicação e redação da ANAPRI.
No começo do mês de agosto de 2024, a Argentina se viu em um escândalo de violência doméstica: a ex-primeira dama Fabiola Yañez, acusou o ex-presidente Alberto Fernández, que presidiu a Argentina de 2019 a 2023. Em pleno mês de campanha brasileira contra a violência doméstica “Agosto Lilás”, Fabiola acusa seu ex marido de violência física, psicológica, verbal, assédio, abuso de poder, entre outras (G1).
A violência doméstica contra a mulher é um problema global, atingindo mulheres de várias idades e nacionalidades. Na Argentina, a Relatora da ONU sobre violência contra a mulher já havia alertado sobre a “cultura do machismo” em 2016, que faz com que diversos tipos de violência sejam tolerados e/ou encobertos (ONU). Atualmente, a situação das mulheres argentinas não obteve tantas vitórias, já que o atual presidente do país, Javier Milei, fechou o Ministério das Mulheres nos seus seis primeiros meses de mandato. É importante lembrar que a denúncia de Yañes foi formalizada em Madri, local da sua atual residência depois da separação com Fernández.
A acusação contra um ex-presidente argentino atrai atenção internacional e pode afetar também a imagem do país, que já tem um histórico político vergonhoso sobre o combate a violência de gênero, apesar das inúmeras tentativas de defesa por organizações e protestos como “Ni una a menos”. A diplomacia argentina deve também considerar como essa situação pode afetar acordos bilaterais e multilaterais, tendo em vista que pode haver pressões políticas para que haja uma investigação justa e transparente.
Ao mesmo tempo, é presenciado o sucesso da adaptação literária do best-seller “É assim que acaba”, de Colleen Hoover, que já atingiu o marco de 180 milhões de dólares nas primeiras semanas de edição, além do sucesso do livro, o filme mostra a importância de debater temas como violência doméstica e ciclos de violência que afetam inúmeras meninas e mulheres. Obras cinematográficas como essas mostram que “a relação das diferentes mídias com o público pode ser compreendida a partir do incentivo às produções que acompanham as características socioculturais de cada lugar onde elas se inserem e determinam o seu aspecto industrial.” (Gutfreind, 2005).
Além das histórias de amor e aventura, best-sellers também trazem à tona importantes temas a serem reconhecidos e debatidos, afinal, livros e filmes são importantes veículos de comunicação. A visibilidade de histórias como a da protagonista Lily Bloom no mesmo momento em que Fabiola Yañes denuncia um grande líder político incentiva a conscientização mundial sobre violência de gênero, amplificando a necessidade de uma ação social global para erradicar essa violação dos direitos humanos e das mulheres.
Referências:
Ex-primeira-dama argentina diz a tribunal que foi forçada por Alberto Fernández a fazer aborto; veja detalhes da denúncia. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/08/13/ex-primeira-dama-argentina-diz-a-tribunal-que-foi-obrigada-por-alberto-fernandez-a-fazer-abordo.ghtml>. Acesso em: 19 ago. 2024.
Relatora da ONU pede que Argentina proteja mulheres diante de cultura machista. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/75038-relatora-da-onu-pede-que-argentina-proteja-mulheres-diante-de-cultura-machista>. Acesso em: 19 ago. 2024.
Em seis meses de governo, Milei desmantela décadas de políticas feministas e de gênero na Argentina. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/06/12/em-seis-meses-de-governo-milei-desmantela-decadas-de-politicas-feministas-e-de-genero-na-argentina.ghtml>. Acesso em: 19 ago. 2024.
CALIXTO, M. “É Assim Que Acaba” chega a marca de US$180 milhões de bilheteria. Lorena.r7.com, 19 ago. 2024. Disponível em: <https://lorena.r7.com/categoria/Cinema-tv/E-Assim-Que-Acaba-chega-a-marca-de-US180-milhoes-de-bilheteria>. Acesso em: 19 ago. 2024
GUTFREIND, C. F. O cinema e sua integração na rede midiática. Comunicação e Cultura Metropolitana, 2005.
Sobre a autora: Jessica Freitas, acadêmica de relações internacionais, pesquisadora das comunicações políticas e mídia, voluntária em 4 projetos/ONGs.