Autora: Jessica Freitas
Revisado por: Elaine Silva da Luz, coordenadora de comunicação e redação da ANAPRI
O ano de 2023 tem sido no Brasil o mais quente já registrado, com recordes atrás de recordes, a situação já ultrapassa o “aquecimento global” e já se caracteriza como “ebulição global”, não apenas no Brasil, também foram registrados diversos problemas por conta das altas temperaturas no EUA, o que causou diversos incêndios florestais, no ano anterior (2022), a Europa já havia registrado uma onda de calor intensa que causou centenas de mortes no velho continente.
No dia 17 de novembro de 2023, jornalistas da Globo começaram a edição do “SP1” em cadeiras de praia e óculos de sol, informando a média de temperatura para aquele dia, logo surgiram várias críticas aos âncoras, afinal, até que ponto os veículos midiáticos podem interferir em assuntos tão alarmantes?
Não é de hoje que é comum nos jornais que “as informações veiculadas incluem não apenas a previsão do tempo, mas também a associação de algumas condições atmosféricas a aspectos relevantes, como saúde, agricultura, esporte, lazer, política e economia” (ZAMPARONI,2021), geralmente, ondas de calor vão relacionadas com praia, tendências de biquinis e alguma receita para aliviar o calor, é fato que “a prevenção ainda não faz parte do jornalismo, o que torna urgente o desenvolvimento de uma comunicação de risco.” (ALMEIDA. SEIXAS, 2022).
Outro exemplo de como a mídia tem falhado em sua função social (passar a informação de forma eficiente para que haja tomadas de decisões onde soluções sejam indicadas e se possa aumentar a consciência do público sobre o tema), foi durante a onda de calor que atingiu o Reino Unido em 2022, GURGEL fala que “a imprensa britânica perdeu uma oportunidade de equilibrar a cobertura, falando do prazer do sol e aproveitando a atenção sobre ele para abordar o motivo pelo qual ondas de calor mais severas e frequentes estão acontecendo.”, o resultado disso foi um protesto conflituoso contra os tabloides Fox, Sky News e The Sun, principalmente.
O fato de uma crise como a que está acontecendo não está sendo tratada com a devida importância pela mídia de cada país, vinculando notícias que “podem ser confusas, contraditórias, erradas, simplistas, alarmistas e sensacionalistas, podendo induzir a mal entendidos ou mesmo descrença e desinteresse pela temática”, faz com que as pessoas não internalizem a catástrofe prestes a acontecer, então não há movimentação para que políticos e empresas tomem atitudes para, quem sabe, reverter ou ao menos, minimizar essa conjuntura. Então assim, a mídia jornalística em muitos países se torna parcialmente responsável, chegando ao ponto de quase desinformar a sociedade sobre a situação climática, por conta da forma como essas notícias estão sendo repassadas.
Pode-se entender que, a partir do momento que os grandes veículos de informação tratarem com a devida seriedade e importância as ocorrências climáticas, há de se mudar o comportamento das pessoas, pois “está comprovado e aceito pela comunidade científica que as ações humanas no contexto das políticas públicas que norteiam o uso e ocupação do solo urbano modificam as relações superfície/atmosfera e geram os fenômenos das ilhas de calor urbano e os desastres naturais (enchentes e inundações) (ZAMPARONI,2021).”
Afinal, a apatia que a mídia causa no seu público sobre a ebulição global faz com que as pessoas se preocupem mais com que roupa é moda no clima quente do que com o que fazer para reduzir os danos causados ao meio ambiente. Para que isso mude é necessário construir uma sociedade bem informada através de uma imprensa socialmente responsável, para que assim, se torne ativa nas resoluções sobre o clima.
Referências
A comunicação da emergência climática. Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/ambiente-e-sociedade/comunicacao-da-emergencia-climatica>. Acesso em: 28 nov. 2023.
ZAMPARONI, C. A. G. O CLIMA E A MÍDIA. [s.l.] Projeto UFMT Popular, 2021
GURGEL, L. Análise. Disponível em: <https://mediatalks.uol.com.br/2022/07/23/o-que-a-europa-fervendo-pode-ensinar-sobre-o-papel-da-midia-para-combater-a-crise-do-clima/>. Acesso em: 29 nov. 2023.